À população, à mídia, e às autoridades constituídas:
À primeira vista, a segurança pública estadual parece uma estrutura sólida, funcional, heroica. Uma bela e harmoniosa utopia, contada com palavras doces em discursos políticos, manchetes e propagandas. A imagem vendida é a de uma força preparada, motivada, equipada. Mas essa é só a superfície. A realidade, conhecida apenas por quem veste a farda, é dura, injusta e, muitas vezes, desumana.
O policial militar — esse mesmo que protege as ruas dia e noite — carrega nas costas um fardo que vai muito além do combate ao crime. Enfrenta escalas exaustivas, jornadas desumanas e o peso de decisões que podem custar vidas. Trabalha com equipamentos ultrapassados, viaturas sucateadas — muitas vezes consertadas com o próprio salário. Falta apoio jurídico, falta respaldo moral, e sobra cobrança de todos os lados.
Dentro da própria corporação, há ainda outra guerra: a das arbitrariedades e perseguições internas. Muitos são vítimas de superiores que mais se assemelham a “capitães do mato” modernos, movidos por vaidade, inveja ou pura má vontade. Policiais perseguidos, punidos, assediados, não por quebra de conduta, mas por serem diferentes, por pensarem, por questionarem.
A sociedade, influenciada por uma mídia sensacionalista, muitas vezes enxerga o policial como instrumento de um Estado opressor. Acusa-se de fascismo, de truculência, de violência institucional. Mas o que não se diz — e poucos querem saber — é que quem está na ponta da lança, enfrentando o caos, é um ser humano tentando evitar que o mal se instale, tentando salvar vidas, inclusive as que o odeiam.
A vida fora do serviço também é um campo de batalha. Muitos policiais precisam trabalhar em bicos para complementar uma renda que não condiz com a responsabilidade que carregam. Não podem morar em qualquer lugar, nem matricular seus filhos em qualquer escola. Nas periferias dominadas pelo crime, a polícia é o inimigo número 1. Ser policial é viver em alerta até mesmo em casa.
Essa rotina cobra um preço alto. O psicológico adoece. A pressão constante, o medo, a insegurança e a falta de reconhecimento transformam esses profissionais em bombas prestes a explodir. Alguns buscam refúgio no álcool. Outros acabam se perdendo em vícios. Famílias se desestruturam. Lares se esvaziam. E, em muitos casos, a única saída encontrada é uma bala de .40 disparada contra a própria cabeça. Silenciosa. Fria. Final.
Essa é a verdade amarga que ninguém quer ouvir. Essa é a realidade que a sociedade insiste em ignorar. A utopia contada com palavras doces custa vidas — vidas de quem jurou proteger a sua.
É hora de encarar os fatos com seriedade. De dar voz a quem sempre foi silenciado. E de entender, de uma vez por todas, que por trás da farda há um ser humano — e ele também precisa de proteção.
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Um policial militar que ainda resiste.